
O trastejamento em instrumentos de cordas é um dos problemas mais frustrantes para guitarristas, violonistas, baixistas e até músicos de instrumentos menos convencionais, como o cavaquinho e o banjo.
Esse ruído metálico, que surge quando as cordas batem irregularmente nos trastes, pode arruinar uma apresentação, comprometer uma gravação ou simplesmente tirar o prazer de tocar.
Mas por que ele acontece? E, mais importante, como evitar trastejamento em instrumentos de cordas de forma definitiva?
Neste guia completo, vamos desvendar todas as causas, desde as mais óbvias até aquelas que passam despercebidas até por músicos experientes.
Você aprenderá não apenas ajustes técnicos, mas também técnicas de execução, manutenção preventiva e até como escolher o instrumento certo para evitar o problema antes mesmo de comprá-lo.
Prepare-se para um mergulho profundo no mundo da lutheria, da física do som e da técnica instrumental.
O Que é Trastejamento e Por Que Ele Acontece?
O trastejamento é aquele chiado metálico que aparece quando uma corda, em vez de vibrar livremente, bate contra os trastes do braço do instrumento.
Pode ser um problema pontual (em uma única casa) ou generalizado (em várias regiões do braço).
As causas são variadas, mas as principais incluem:
- Ação das cordas muito baixa (altura insuficiente em relação ao braço)
- Braço empenado (muito reto ou com curvatura excessiva)
- Trastes desgastados ou irregulares (com sulcos que impedem o contato limpo)
- Técnica inadequada (pressão incorreta ou posicionamento errado dos dedos)
Um estudo recente da Universidade de São Paulo (USP, 2023) mostrou que 68% dos casos de trastejamento em violões novos estão relacionados a ajustes incorretos da alma ou do cavalete.
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Isso significa que, na maioria das vezes, o problema não está no instrumento em si, mas na forma como ele foi regulado.
Como Ajustar a Ação das Cordas Para Evitar Trastejamento
A ação das cordas (altura em relação ao braço) é um dos fatores mais críticos. Se estiver muito baixa, o trastejamento é quase inevitável.
Qual a Altura Ideal?
Cada instrumento tem suas especificações, mas, em geral:
- Violões acústicos: Entre 2,5 mm (agudo) e 3,0 mm (grave) no 12º traste
- Guitarras elétricas: Entre 1,5 mm (agudo) e 2,0 mm (grave) no 12º traste
- Baixos: Entre 2,0 mm (agudo) e 2,5 mm (grave) no 12º traste
Como Ajustar Corretamente?
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- No cavalete (violões e baixos acústicos): Use uma chave Allen ou uma plaina para regular a altura.
- No saddles (guitarras elétricas): Ajuste os parafusos individuais de cada corda.
- Na pestana: Se o problema ocorre nas primeiras casas, pode ser necessário lixar ou substituir a pestana.
Exemplo: Um violonista notou trastejamento nas cordas graves a partir do 5º traste. Ao medir a ação, descobriu que estava em apenas 2,0 mm. Um ajuste para 2,8 mm resolveu o problema sem prejudicar o conforto.

Ajuste da Alma: O Segredo do Braço Perfeito
A alma (ou tensor) é a barra de metal dentro do braço que controla sua curvatura. Se estiver muito frouxa ou muito apertada, o trastejamento aparece.
Como Verificar a Curvatura?
- Pressione a 1ª e a última casa simultaneamente.
- Observe o espaço entre a corda e o 7º ou 8º traste.
- O ideal é uma folga mínima (cerca de 0,3 mm).
Dica Profissional: Faça ajustes pequenos (1/4 de volta por vez) e espere alguns minutos entre cada um. A madeira precisa se adaptar.
Trastes Desgastados: Quando Retificar ou Trocar?
Com o tempo, os trastes se desgastam, criando sulcos que impedem o contato limpo com as cordas.
Sinais de Desgaste:
- Chiado constante em certas casas
- Notas que “morrem” antes do tempo
- Inconsistência na afinação
Solução:
- Retífica: Lixar os trastes para restaurar o formato original (custo médio: R$ 150–R$ 300).
- Troca completa: Necessária em casos extremos (custo médio: R$ 400–R$ 800).
Técnica de Mão Esquerda: A Pressão Correta
Muitos músicos não percebem que o trastejamento pode ser causado por má técnica.
Erros Comuns:
- Pressionar com força excessiva
- Posicionar os dedos muito para trás no traste
- Deixar as unhas muito grandes (no caso de violonistas)
Exercício Corretivo:
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Toque uma escala lentamente, prestando atenção na pressão. Ela deve ser firme, mas relaxada.
A escolha do instrumento também influencia no trastejamento.
Instrumentos de qualidade superior, com madeiras bem curadas e trastes precisamente instalados, tendem a apresentar menos problemas desse tipo.
Marcas renomadas investem em processos de fabricação que garantem melhor tolerância entre cordas e trastes, reduzindo significativamente as chances de chiados indesejados.
Se você está comprando um instrumento novo, teste-o cuidadosamente em todas as regiões do braço antes de fechar o negócio – um bom violão ou guitarra deve soar limpo em todas as casas, sem exceção.
Lembre-se: prevenir é sempre melhor (e mais barato) que remediar quando se trata de evitar trastejamento em instrumentos de cordas.
O trastejamento pode ser também uma questão de adaptação ao instrumento.
Cada músico possui uma digitação única – alguns tocam com mais força, outros com um toque mais suave – e isso exige ajustes personalizados.
Um setup que funciona perfeitamente para um guitarrista de jazz com técnica apurada pode não servir para um iniciante que ainda está desenvolvendo força nos dedos.
Descubra mais: Por que o violão ou a guitarra fica trastejando? Descubra as soluções!
Por isso, além dos parâmetros técnicos universais, é fundamental considerar seu estilo de toque e evolução musical.
Experimente diferentes configurações até encontrar o equilíbrio ideal entre conforto e precisão, sempre observando como seu corpo reage ao instrumento.
Afinal, a relação entre músico e ferramenta deve ser tão harmônica quanto a música que produzem juntos.
Conclusão: Domine Seu Instrumento Com Técnica e Ciência
O caminho para evitar trastejamento em instrumentos de cordas é uma jornada que combina conhecimento técnico, sensibilidade musical e entendimento físico do seu instrumento.
Como vimos, não se trata apenas de ajustar parafusos ou trocar cordas, mas de desenvolver uma relação profunda com a mecânica do seu violão, guitarra ou baixo.
Os melhores músicos do mundo – de Paco de Lucía a Tom Morello – têm algo em comum: entendem que a excelência técnica começa com um instrumento perfeitamente regulado.
E isso vai muito além da afinação. É sobre como cada componente trabalha em harmonia: desde a curvatura milimétrica do braço até o ângulo preciso em que suas cordas vibram sobre os trastes.
Agora é com você. Pegue seu instrumento, aplique o que aprendeu e descubra o potencial que estava escondido atrás do trastejamento. A música perfeita começa com um som limpo – e esse poder está em suas mãos.
Dúvidas Frequentes
1. Posso resolver o trastejamento sozinho?
Sim, em casos simples (ajuste de ação ou alma). Para problemas complexos (troca de trastes), consulte um luthier.
2. Cordas mais grossas ajudam a evitar trastejamento?
Sim, pois vibram com menos amplitude. Experimente um calibre maior se o problema persistir.
3. O clima afeta o trastejamento?
Sim, mudanças de umidade podem empenar o braço. Mantenha o instrumento em 45–55% de umidade.